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Leituras: O Mundo Codificado – Vilém Flusser

O Mundo Codificado

Sinopse

A obra de Vilém Flusser (1920-1991) desvenda a tentativa milenar da humanidade de superar suas limitações físicas por meio da tecnologia. Nesse processo, o autor demonstra que os designers, embora tenham um papel central, caminham sobre um chão conceitual muito frágil. As teorias apresentadas destroem lugares comuns e verdades superficiais, além de lançarem luz sobre problemas que sequer começamos a enfrentar. Flusser, filósofo nascido em Praga, na atual República Tcheca, passou cerca de 30 anos de sua vida no Brasil, onde engajou-se no debate filosófico, contribuindo com escritos para a Revista Brasileira de Filosofia e para os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Os textos reunidos em O mundo codificado trazem a marca da melhor produção do autor- são curtos, rápidos, claros, precisos, incisivos, mas, como afirma Rafael Cardoso, organizador da edição, que ninguém se engane com a aparência amena dessa água, cuja superfície transparente esconde a profundidade vivente de um oceano!. Essencial à formação de qualquer designer, o livro é referência obrigatória para se entender melhor a encruzilhada entre a materialidade temporal e a imaterialidade eternizada à qual nossa cultura parece estar chegando. Por Livraria Cultura.

O que achei

Desde a faculdade eu namorava este livrinho. Todo mundo falava que era leitura obrigatória, mas nunca conseguia botar minhas mãos nele até a promoção da Cosac Naify, o real bota-fora que fizeram, e finalmente consegui! Ele foi todo organizado pelo historiador de arte Rafael Cardoso em três partes: Coisas, Códigos e
Construções.

Visual requintado à parte, o livro é de leitura bem densa, portanto sabia que pra mim seria uma coisa bem difícil – sempre me acho meio burra pra este tipo de livro – porém achei várias passagens que me intrigaram, principalmente se pensarmos que Flusser morreu em 1991. Em alguns pontos ele fala sobre a evolução da tecnologia e como as pessoas irão utilizá-la, exemplo:

“Vamos então buscar outro modelo que a revele mais claramente: o papel de um espectador de TV num futuro próximo. Ele terá à sua disposição um videocassete com fitas de vários programas. Estará apto a mesclá-los e a compor, assim, seu próprio programa. Mas poderá fazer ainda mais: filmar seu programa e outros na sequência, inclusive filmar a si mesmo, registrar isso numa fita e depois passar o resultado na tela de sua TV. Ele se verá, portanto, em seu programa. Isso significa que o programa terá o começo, o meio e o fim que o consumidor quiser (…), e significa também que ele poderá desempenhar o papel que quiser.”

O que seria isso se não o nosso YouTube? Fazemos nossas próprias programações e se nada nos satisfazer ainda podemos criar nosso próprio conteúdo.

Em todo o livro Flussem fala sobre como as informações são utilizadas, recebidas e entendidas, por isso um livro tão importante para estudantes de design e comunicação. Apesar de escrito há mais de 20 anos atrás, o livro trás vários questionamentos que são incrivelmente atuais.

“Vamos recapitular nosso argumento na tentativa de dizer como poderá ser a nova civilização. Temos duas alternativas. A primeira possibilidade é a de o pensamento imagético não ser bem-sucedido
ao incorporar o pensamento conceitual. Isso conduzirá a uma despolitização generalizada, a uma desativação e alienação da espécie humana, à vitória da sociedade de consumo e ao totalitarismo da mídia de massa. Parecerá muito com a atual cultura de massa, até mais, inclusive, e a cultura da elite desaparecerá para sempre. E esse é o fim da história em qualquer sentido significativo que esse termo possa ter. A segunda possibilidade é a de o pensamento imagético ser bem-sucedido ao incorporar o conceitual. Isso levará a novos tipos de comunicação, nos quais o homem assumirá conscientemente a posição formalística. A ciência não será mais meramente discursiva e conceitual, mas recorrerá a modelos imagéticos. A arte não trabalhará mais com coisas materiais (“oeuvres”), ela proporá modelos. Os políticos não lutarão mais pela observância de valores, eles irão elaborar hierarquias manipuláveis de modelos de comportamento. E isso significa, em resumo, que um novo senso de realidade se pronunciara, dentro do clima existencial de uma nova religiosidade.”

Eu não vou dizer aqui que entendi o livro inteiro, acho que ele merece ser relido futuramente, principalmente em um momento de mais paciência. Eu realmente não me dou bem com livros de filosofia e derivados, mas acho que valeu muito a minha tentativa, e apesar de ter literalmente viajado em várias passagens e relido muitas vezes, eu gostei, mesmo me sentindo bem lerda no final. Mas paciência, um dia irei melhorar.

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