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Paprika (2006)

Aproveitando que não curto futebol, e domingo rolou um monte de clássicos de futebol na TV, resolvi assistir a esse filme, o qual o DVD estava esperando ser aberto faziam alguns meses. Hoje iremos falar dessa viagem animada chamada: “Paprika”.


No começo tive um pouco de dificuldade em compreender o andamento do filme, como aconteceu quando assisti “Perfect Blue”, mas isso é proposital, devido ao modo da narrativa e seu contexto. Os filmes de Satoshi tem essa característica, justamente para fazer o expectador ir montando um quebra-cabeças.


Primeiramente, uma recomendação nunca feita antes por aqui: assistam em full HD, ou com algum player que tenha cabo HDMI. Os cenários são algo espetacular que você pode deleitar seus olhos observando os detalhes, e não irá cansar de vê-los, graças ao explêndido trabalho do diretor de arte Nobutaka Ike, que já havia trabalhado com Satoshi em produções anteriores. É o tipo de coisa que passa em segundos, mas alguém ficou – as vezes – meses trabalhando nesse fundo.


Em “Paprika”, vemos a pesquisadora de psicoterapia Dra. Atsuko Chiba, utilizando o “DC Mini”, um dispositivo criado pelo (grande) Dr. Kosako Tokita, o qual possibilita entrar nos sonhos das pessoas, e dessa forma conhecer e compreender os traumas existentes em seu subconciente. Nesse caso, duas pessoas podem compartilhar do mesmo sonho, onde a segunda pode intervir. Durante o início, vemos que o detetive Toshimi Konakawa encara diversos tipos de medo, e pede ajuda para a garota Paprika, a qual relata que o aparelho ainda esta em teste pois num estágio mais avançado, será possível acessar os sonhos mesmo estando acordado.


Contudo, no laboratório de desenvolvimento, esse aparelho acaba sendo roubado, e o presidente do conselho, Dr. Seijiro Inui, resolve cancelar o projeto. Num dado momento, o chefe de Chiba e Tokita, Dr. Toratar Shima, acaba surtando e se jogando pela janela. Acabam descobrindo que eles estava sendo influênciado pelo aparelho, que começava a ampliar seu alcance, confundindo as pessoas se estavam sonhando ou não. Esse tipo de conflito não chega a ser algo novo, pois na série de animação The MAXX trabalharam, de certo modo, dessa maneira, porém dentro de um contexto diferente. Assim como aconteceu em “A Origem”, anos mais tarde.


A maneira como a narrativa te envolve, e os próprios personagens, é algo que gostei bastante, diferente de “Perfect Blue”, onde a própria protagonista não tinha muito carisma, e algo mais próximo do trio de “Tokyo Godfathers”, ambos dirigidos também por Satoshi Kon. “Paprika” foi baseado no romance publicado em um periódico, sendo o último trabalho de Yasutaka Tsutsui, o qual, curiosamente, solicitou ao próprio Kon que dirigisse a produção.


Durante a gravação das vozes dos personagens, Tsutsui pediu para ouvir a música da parada (que é uma das cenas emblemáticas da animação) e disse que ela a conquistou e que poderiam continuar o trabalho a todo vapor, pois sabia que tinha feito a uma excelente decisão. A trilha sonora como um todo é muito linda, assim como o tema de abertura com os créditos iniciais, depois de ouvir muito me lembrou algo como Enya com um toque de eletrônico, mas transmite a essência necessária do sonho.


O que vale, e muito, no DVD é o rico material dos extras, algo que hoje tem sido bastante raros nesse tipo de mídia, sendo presentes, em sua maioria, nos blu-ray. Ao assistir, é algo que te contagia e lhe inspira a produzir algo animado. Também interessante observar, a dedicação do diretor que também foi responsável por parte do roteiro e storyboard para que tudo mantivesse a idéia do romance original. Assim como, mesmo numa produção animada 2D, perceber o cuidado que Michyia Kato, cinematógrafo e diretor de CG, teve ao utilizar esse recurso, para que não destoasse a técnica de ilustração que estava sendo usada, no making of percebe-se que mesmo com o uso de efeitos digitais, a base foi o bom e velho desenho a mão livre.


“Paprika” é o tipo de filme que vale a pena ver e rever, ainda mais depois que você compreende tudo que aconteceu para encaixar as pontas soltas, e enxergar com outros olhos. Há uma dose bem carregada de elementos que possuem outro significado dentro da própria narrativa, como no momento da água escorrendo no pará-brisa que está em sintonia com a fala dos personagens. Fazia tempo, acho que desde quando assisti “A Viagem de Chihiro” não me sentia tão atraído por uma animação e pelo seu processo de produção. E também foi o último longa metragem dirigido por Satoshi Kon, que veio a falecer ano passado, em 24 de agosto, vítima de cancro no pâncreas. Uma grande perda para o universo da animação, visto que ele era um dos diretores, com menos de 50 anos, que vinha sendo bastante elogiado.


Se tiverem a oportunidade de assistir, espero que aproveitem e gostem também.


Bom final de semana para todos, ateh! o/

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3 comentários

    1. @Michelli, Sim! É o tipo de imagem que vale a pena ter impressa em alta resolução na parede do quarto, hehe. 😀