Como publicar um livro?
Eu tenho uma vontade bem grande de um dia ter algo publicado com meu nome na capa – e nas ilustrações – mas enquanto isso não acontece, eu achei que uma amiga minha poderia ajudar bastante a esclarecer algumas dúvidas de quem quer fazer a mesma coisa, mas não sabe como colocar em prática, então apresento pra todo mundo: Camila Loricchio.
A Camilinha é designer, escritora, mestre em desenvolvimento, tecnologias e sociedade (chique demais), escreve desde 2011 no blog Castelo de Cartas, mesmo nome da trilogia de livros que ela escreveu (tenho todos), e ela ainda trabalha como revisora e assistente editorial. Tive o prazer de conhecê-la na época da faculdade – ela é minha bixete) e estou desde então acompanhando as coisas legais que ela faz.
Então a partir daqui quem fala é ela. Camila, bem-vinda, a casa é sua!
Publicando com Editora
Meu primeiro livro (o Castelo de Cartas – Valete) foi lançado lá em 2011, por meio de uma editora. A experiência acabou não sendo das melhores, mas serviu pra conhecer um pouco do mercado e descobrir uma coisa que vai aparecer em todos os casos de publicação impressa independente: LIVRO OCUPA ESPAÇO.
Junto dessa experiência, no meu trabalho recente como assistente editorial numa editora independente, eu pude trabalhar com o outro lado da moeda, ajudar escritores a publicarem por meio da editora. Vamos aos prós e contras desse tipo:
Prós:
Você tem um apoio editorial super joia que te ajuda com a revisão, diagramação, distribuição, estoque, notas fiscais, acertos, e contatos no mercado.
Contras
O que o autor recebe é bem pouco se for considerar o todo (depois de entender os custos que envolvem uma editora, eu acho que é justo num mercado que cobra tanto, mas é completamente impossível viver de livros dessa forma), é cerca de 10% do preço de capa do livro. As livrarias também pegam uma bocada, vai custo de impressão, da equipe que trabalhou, e tudo o mais.
Em suma, vale e muito por todo apoio e expertise aos quais você pode ter acesso, mas o retorno é bem a longo prazo! Também é bom frisar que tem editora que cobra pra publicar e editora que cobre os custos, e também algumas em que você investe o valor e recebe conforme as vendas. (Nem preciso dizer que é sempre bom achar uma editora em que você confie e MUITO, ler o contrato com muita atenção e desconfiar de quem tá pedindo demais e não dando nada em troca, escrever é trabalho. 🙂
Publicando um Livro Independente
Depois da experiência com meu primeiro livro, eu acabei enveredando pelos caminhos da independência, então o meu segundo foi feito totalmente independente, foi o Castelo de Cartas – Dama em 2013. Era a continuação do primeiro, eu estava no fim da faculdade, meu namorado também fazia design e já trabalhava numa editora. Então já que ambos tínhamos uma noção do que precisava fazer, fizemos toda a diagramação, revisão, e mandamos imprimir uma tiragem mais coerente.
Outro ponto que já vou trazer aqui referente a publicação impressa é: Tiragem.
Muitos livros significam que você precisa ter um capital maior pra investir, e saber se vai ter vazão. E lugar pra guardar, porque novamente, eles ocupam espaço, pesam, acumulam pó, podem ser danificados e mais mil coisas.
É sempre bom alcançar um equilíbrio entre uma tiragem que valha pelo preço (quanto mais livros menor o preço por exemplar) e que você consiga vender.
Outra coisa é que, se você quer fazer tudo completinho, vai ter de lidar com um prefixo editorial, e isso é mais custo, pensar nos registros na Biblioteca Nacional e tudo o mais. O legal é que fazendo um prefixo você pode publicar um tantão de livro e registrá-los. Então vale bastante.
Nesse tipo você também tem que saber bem mais sobre o processo que envolve fazer um livro, tem que saber falar com as gráficas, com os profissionais que vão fazer o que você não consegue ou não quer/pode fazer (diagramação, leitura crítica e sensível, revisão, capa). O que é bem legal pois a gente acaba tendo contato e entendendo o que realmente envolve fazer tudo isso. Eu particularmente gosto pacas.
Vamos aos prós e contras desse tipo!
Prós:
Tudo que entra é seu. Você tem mais controle criativo sobre o projeto, mesmo não fazendo com alguém pode ter amigos e contatos pra trocar ideias e fazer a obra da melhor forma possível.
Contras:
Tudo que sai também é seu. Nesse caso a gente teve que pagar apenas a impressão, pois fizemos nós mesmos a parte de design e revisão (hoje em dia eu diria que nunca é bom a gente mesmo revisar nossa própria obra, contrata alguém joia pra fazer esse serviço pra você!), mas a impressão é uma das partes mais caras hoje em dia, então você já precisa ter esse dinheiro disponível e ter a consciência de que vai demorar pra recuperar. Você também precisa lidar com o estoque, controle das vendas, divulgação e tudo que a editora faria pra você. E ao mesmo tempo que é muito legal, cansa bastante.
Alguns desses contras conseguem ser rebatidos com uma coisa linda e maravilhosa que entrou pra ficar na minha vida, que é a terceira modalidade:
Independente com Financiamento Coletivo:
Essa já é minha menina dos olhos haha
Já fiz dois livros por meio de financiamento coletivo, o Castelo de Cartas – Rei (de 2016) e a HQ Desenredos (de 2018! Essa feita em parceria com o Pedro Vó).
O financiamento coletivo é uma etapa a mais pra todo mundo que não tem o capital que a gente comentou anteriormente pra investir (que basicamente é a grande maioria de todos nós). Como vender é a parte difícil, o financiamento já te ajuda a fazer quase uma pré-venda lindona e ver quem tá afim do seu trabalho, de conhecer suas leitoras e leitores e de tornar as pessoas parte do projeto. É uma delícia. Dá um trabalho a mais? Sim. Mas vale muito. E te desgasta muito menos financeiramente e na hora da divulgação.
Vai acabar envolvendo os mesmos prós e contras do anterior, mas com a vantagem de já estar sendo um tipo de ação muito usada pelo meio independente (e também por editoras!), assim a galera que lê já está acostumada a lidar com isso e ajudar.
Claro que nesse caso entram algumas questões a mais: você precisa se preparar com uma logística de envios, recompensas viáveis, responsabilidades e orçamentos bem firmes pra não ficar no prejuízo. É aquela coisa, pesquise os projetos que deram certo, conheça as plataformas (tem Catarse, Benfeitoria, Kickstarter, uma penca!), veja as diferenças entre cada um, taxas, tempo, se organize, e ahaze.
Isso tudo que falei até agora foi pra livros impressos, mas e os famigerados ebooks?
Livros digitais:
Eu estou no processo de revisar os livros da Trilogia das Cartas pra poder lançar em ebook. Ebook hoje é super prático, você leva pra qualquer canto e é uma super chance de facilitar o acesso pra qualquer um sem depender do meio físico e de transportar o livro (e de imprimir, né).
Pra diagramar ebook pra várias plataformas dá um trabalho (por isso vários ebooks não são tão em conta assim! Às vezes o preço chega a ficar mais caro do que o impresso, dependendo da complexidade do projeto), então se você não consegue fazer isso por conta, não tem como pagar alguém joia pra fazer isso pra você, tem vários meios de autopublicação (como na Amazon). Nesse caso é sempre bom, novamente, ficar atento aos contratos, se envolve exclusividade, quanto do preço de capa fica pra você e pesar tudo certinho. 🙂
Esse é o meio mais acessível sem depender de muita coisa, outra opção, mais independente impossível, vai em muitas feiras é:
Zines xuxus:
Zine é o rolê mais independente possível, não precisa de ISBN, dá pra fazer em casa, pode fazer com uma única sulfite, xerox, a criatividade é o limite. E muitas vezes é uma chance super joia de mostrar seu trabalho pra quem não conhece.
Acabei lançando um esse ano, o Serial Zine, super simplão, com uns contos, e é isso.
Prós:
Tem muuuuuita referência de zine joia por aí, dá pra despirocar na criatividade, é barato, você apresenta seu trabalho de uma maneira super lindeza e é gostoso de fazer.
Contras:
Se baixa a pessoa megalômana sai caro. Acho que só isso.
Bem, gente, tem mais mil detalhes e mil coisas que envolvem a gente publicar um livro, a ideia era fazer um tourzão rápido pelos tipos de publicação com os quais tive experiência, o rolê mesmo é analisar o que você tem em mãos, o que rola no momento, conversar muito e ir pesquisar.
Se tiverem dúvidas deixem aí que a gente volta pra sanar!
E, claro, nunca deixar de escrever.